terça-feira, 7 de setembro de 2010
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
FILME DO PROJETO CINEMA NA ESCOLA GANHA MELHOR FOTOGRAFIA NO FEST NATAL-CURTA NORDESTINO.
Os três primeiros colocados da VI Mostra do Curta Nordestino, segundo a escolha do Júri Oficial, foram: 1º lugar: Covinhas – Uma História de Fé (RN) (foto) , dirigido por Catarina Doolan & Julio Castro; 2º lugar: Dona Militana – A Romanceira dos Oiteiros (SP), direção de Hermes Leal; 3º lugar, Babauparatodos (CE), direção de Carlos Normando.
O júri conferiu duas Menções Honrosas: Eneide Alves, protagonista de Primeira Noite em Sri-Lanka (RN) e a fotografia de Feliciana e os Cabaços do Sertão (RN), direção de J.Junior.
O Prêmio do Júri Popular foi conferido a Primeira Noite em Sri-Lanka, dirigido por Daniel Rizzi.
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Fonte: Refletores da Fama
O júri conferiu duas Menções Honrosas: Eneide Alves, protagonista de Primeira Noite em Sri-Lanka (RN) e a fotografia de Feliciana e os Cabaços do Sertão (RN), direção de J.Junior.
O Prêmio do Júri Popular foi conferido a Primeira Noite em Sri-Lanka, dirigido por Daniel Rizzi.
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Fonte: Refletores da Fama
Filme do Projeto Cinema na Escola, ganha prêmio de Melhor Fotografia no Fest Natal.
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Os três primeiros colocados da VI Mostra do Curta Nordestino, segundo a escolha
Os três primeiros colocados da VI Mostra do Curta Nordestino, segundo a escolha
Sobrevivência da Cultura Crítica no Brasil.
Por Gabriela Moncau, pelo correio da Revista Caros Amigos.
“O que é mais preocupante é a questão da opinião no Brasil. Porque copiamos todo o modelo americano de vida, o consumo, o livre mercado, mas uma coisa que não pegamos, o direito pleno de se expressar”. A frase é de André Dahmer, 35, consagrado desenhista da nova geração dos quadrinistas brasileiros, em entrevista à Caros Amigos na edição de abril. O carioca é autor das tirinhas dos Malvados, que, com um traço simples, fazem uma feroz crítica ao cotidiano da sociedade capitalista, ironizando principalmente o consumismo e o individualismo. Além dos dois personagens dos Malvados, o cartunista ficou famoso com séries de tirinhas como “Cidade do medo”, sobre violência, “Apóstolos, a série”, que narra a história de Jesus fazendo críticas à Igreja Católica e Emir Saad, o ditador sádico e egocêntrico do reino Ziniguistão. Em seu blog, a seção sobre o autor se limita a descrições como “nenhuma cárie no dente, nenhum osso quebrado. Sobreviveu a um afogamento em Ipanema. Gosta de números, odeia aviões”.
Paulo Lins, escritor de 51 anos, também do Rio de Janeiro, do bairro de Santa Teresa. Iniciou na literatura como poeta, na década de 1990 se dedicou à pesquisa antropológica sobre a criminalidade e as classes populares, publicando em 1997 sua grande obra que levou o nome do violento bairro da periferia carioca em que viveu, a hoje famosa – por conta da versão cinematográfica da obra - Cidade de Deus. Atualmente, além de estar terminando o roteiro do filme Faroeste Caboclo, baseado na música de Renato Russo, trabalha no seu novo livro, Desde que o samba é samba é assim, romance sobre uma professora universitária de classe média baixa que pesquisa a história do samba.
Cada um a seu modo, representa importantes expressões culturais que escancaram a realidade brasileira. Dahmer, com seus ácidos quadrinhos, e Lins, representando a literatura de alguém que veio de dentro da periferia, conseguiram achar brechas dentro da sólida cultura hegemônica justamente para criticá-la. O cartunista, porém, chama a atenção para a capacidade de incorporação da sociedade do consumo: “A propaganda sobrevive com uma agilidade enorme, transforma ações inicialmente contra ela a seu favor. A propaganda sabe que consumidor é que nem barata, você vai inventando um veneno mais forte para matar e elas vão se adaptando”. Mas afirma que se garante: “eu não tenho problema de recusar trabalho não, confio muito no sistema que eu montei para viver de maneira mais independente”, conta Dahmer.
Para Paulo Lins, que também recebeu a redação da Caros Amigos na sua casa esse mês, um dos motivos pelos quais justamente conseguiu seguir uma linha alternativa ou contra-hegemônica em seu trabalho é o interesse que o público tem pela tema da violência urbana. “Uns três anos antes de lançar o livro [Cidade de Deus], teve um político, Moreira Franco, que disse que iria acabar com a violência em seis meses, ele se elegeu assim. Imagine a pressão. Então, quando sai um livro desse com uma visão interna, de uma pessoa que viveu, que morou na favela, como eu, o interesse era quase natural”, relata.
Mas não é todo mundo que consegue sobreviver em meio ao mercado cultural brasileiro, controlado pelos mesmos que pautam não só a política como o modelo econômico que a sustenta: as grandes corporações, nacionais e transnacionais. Há muito tempo que a arte perdeu sua viabilidade financeira. Fazer arte não dá lucro. Mas, numa sociedade pautada pela divisão do trabalho, como podem sobreviver os trabalhadores da arte sem se submeterem aos desmandos de um sistema interessado em tratar a cultura como mais uma mercadoria?
O Ministro da Cultura Juca Ferreira acredita que “a cultura brasileira não precisa de uma política de preservação”. Mesmo que na entrevista também publicada neste mês pela Caros Amigos ele tenha se pautado exatamente por proposições protecionistas ao cinema mais adiante, suponhamos que de fato a cultura brasileira se garanta de influências estrangeiras. Não é esse o debate. A questão é como garantir a sobrevivência da cultura sem que ela tenha que se enquadrar à lógica do mercado, de maneira a garantir sua produção e difusão entre a população brasileira. Por mais que os discípulos de Margareth Thatcher, entrincheirados na situação e na oposição, contestem, no âmbito do capitalismo não parece haver outra alternativa que não a intervenção estatal através de políticas públicas.
O Ministério da Cultura tem tomado tímidas medidas quanto a isso. O Vale Cultura, por exemplo, que funcionará como um Vale Refeição, um cartão magnético que será disponibilizado para que o trabalhador reverta R$ 50 em livro, CD, espetáculos, museus ou outras atividades culturais, parece ser algo interessante, apesar de não ter ainda previsão pra ser posto em prática. O próprio ministro, porém, revela que achou melhor não aumentar o valor do vale para que o processo burocrático para sua aprovação não seja retomado: “O presidente Lula me autorizou a dizer que acha que R$50 é pouco e se o Congresso aprovar uma ampliação desse recurso para R$ 100 que ele sancionará essa lei com alegria. Eu disse a ele ‘não vamos propor rever esse total, se não teríamos que começar tudo de novo’”, afirma.
Como apontou a edição especial da Caros sobre a Direita Brasileira, quem decide o que é cultura hoje no Brasil é a iniciativa privada. E pior, o faz através de isenção fiscal, com dinheiro público, prática consagrada pela criticadíssima Lei Rouanet. Dos 1,2 bilhão de reais investidos em cultura pelo poder público brasileiro, 90% são oriundos de renúncia fiscal. Juca Ferreira, na entrevista, aponta seus limites e debate de que maneira essa lógica pode ser superada. Enquanto ela não é, a crítica de arte e professora aposentada da Faculdade de Letras da USP Iná Camargo Costa define a disputa de recursos de incentivo fiscal como “briga de cachorro grande disputando dinheiro do Estado para fins de acumulação”. Assim, os cachorros grandes para os quais o Estado tem transferido a responsabilidade de produção cultural, com a evidente intenção de oferecer eventos para o seu público consumidor, não raras vezes promoverão atividades culturais cujo acesso será para quem tenha no bolso bem mais que um Vale Cultura.
Como Dahmer, Lins e tantos outros evidenciam, porém, a barreira da cultura hegemônica não é inquebrável. Afinal, como define Theodor Adorno, “a cultura, como aquilo que aponta para além do sistema de conservação da espécie, inclui um momento de crítica a todo o existente, a todas as instituições”.
Gabriela Moncau é estudante de jornalismo
“O que é mais preocupante é a questão da opinião no Brasil. Porque copiamos todo o modelo americano de vida, o consumo, o livre mercado, mas uma coisa que não pegamos, o direito pleno de se expressar”. A frase é de André Dahmer, 35, consagrado desenhista da nova geração dos quadrinistas brasileiros, em entrevista à Caros Amigos na edição de abril. O carioca é autor das tirinhas dos Malvados, que, com um traço simples, fazem uma feroz crítica ao cotidiano da sociedade capitalista, ironizando principalmente o consumismo e o individualismo. Além dos dois personagens dos Malvados, o cartunista ficou famoso com séries de tirinhas como “Cidade do medo”, sobre violência, “Apóstolos, a série”, que narra a história de Jesus fazendo críticas à Igreja Católica e Emir Saad, o ditador sádico e egocêntrico do reino Ziniguistão. Em seu blog, a seção sobre o autor se limita a descrições como “nenhuma cárie no dente, nenhum osso quebrado. Sobreviveu a um afogamento em Ipanema. Gosta de números, odeia aviões”.
Paulo Lins, escritor de 51 anos, também do Rio de Janeiro, do bairro de Santa Teresa. Iniciou na literatura como poeta, na década de 1990 se dedicou à pesquisa antropológica sobre a criminalidade e as classes populares, publicando em 1997 sua grande obra que levou o nome do violento bairro da periferia carioca em que viveu, a hoje famosa – por conta da versão cinematográfica da obra - Cidade de Deus. Atualmente, além de estar terminando o roteiro do filme Faroeste Caboclo, baseado na música de Renato Russo, trabalha no seu novo livro, Desde que o samba é samba é assim, romance sobre uma professora universitária de classe média baixa que pesquisa a história do samba.
Cada um a seu modo, representa importantes expressões culturais que escancaram a realidade brasileira. Dahmer, com seus ácidos quadrinhos, e Lins, representando a literatura de alguém que veio de dentro da periferia, conseguiram achar brechas dentro da sólida cultura hegemônica justamente para criticá-la. O cartunista, porém, chama a atenção para a capacidade de incorporação da sociedade do consumo: “A propaganda sobrevive com uma agilidade enorme, transforma ações inicialmente contra ela a seu favor. A propaganda sabe que consumidor é que nem barata, você vai inventando um veneno mais forte para matar e elas vão se adaptando”. Mas afirma que se garante: “eu não tenho problema de recusar trabalho não, confio muito no sistema que eu montei para viver de maneira mais independente”, conta Dahmer.
Para Paulo Lins, que também recebeu a redação da Caros Amigos na sua casa esse mês, um dos motivos pelos quais justamente conseguiu seguir uma linha alternativa ou contra-hegemônica em seu trabalho é o interesse que o público tem pela tema da violência urbana. “Uns três anos antes de lançar o livro [Cidade de Deus], teve um político, Moreira Franco, que disse que iria acabar com a violência em seis meses, ele se elegeu assim. Imagine a pressão. Então, quando sai um livro desse com uma visão interna, de uma pessoa que viveu, que morou na favela, como eu, o interesse era quase natural”, relata.
Mas não é todo mundo que consegue sobreviver em meio ao mercado cultural brasileiro, controlado pelos mesmos que pautam não só a política como o modelo econômico que a sustenta: as grandes corporações, nacionais e transnacionais. Há muito tempo que a arte perdeu sua viabilidade financeira. Fazer arte não dá lucro. Mas, numa sociedade pautada pela divisão do trabalho, como podem sobreviver os trabalhadores da arte sem se submeterem aos desmandos de um sistema interessado em tratar a cultura como mais uma mercadoria?
O Ministro da Cultura Juca Ferreira acredita que “a cultura brasileira não precisa de uma política de preservação”. Mesmo que na entrevista também publicada neste mês pela Caros Amigos ele tenha se pautado exatamente por proposições protecionistas ao cinema mais adiante, suponhamos que de fato a cultura brasileira se garanta de influências estrangeiras. Não é esse o debate. A questão é como garantir a sobrevivência da cultura sem que ela tenha que se enquadrar à lógica do mercado, de maneira a garantir sua produção e difusão entre a população brasileira. Por mais que os discípulos de Margareth Thatcher, entrincheirados na situação e na oposição, contestem, no âmbito do capitalismo não parece haver outra alternativa que não a intervenção estatal através de políticas públicas.
O Ministério da Cultura tem tomado tímidas medidas quanto a isso. O Vale Cultura, por exemplo, que funcionará como um Vale Refeição, um cartão magnético que será disponibilizado para que o trabalhador reverta R$ 50 em livro, CD, espetáculos, museus ou outras atividades culturais, parece ser algo interessante, apesar de não ter ainda previsão pra ser posto em prática. O próprio ministro, porém, revela que achou melhor não aumentar o valor do vale para que o processo burocrático para sua aprovação não seja retomado: “O presidente Lula me autorizou a dizer que acha que R$50 é pouco e se o Congresso aprovar uma ampliação desse recurso para R$ 100 que ele sancionará essa lei com alegria. Eu disse a ele ‘não vamos propor rever esse total, se não teríamos que começar tudo de novo’”, afirma.
Como apontou a edição especial da Caros sobre a Direita Brasileira, quem decide o que é cultura hoje no Brasil é a iniciativa privada. E pior, o faz através de isenção fiscal, com dinheiro público, prática consagrada pela criticadíssima Lei Rouanet. Dos 1,2 bilhão de reais investidos em cultura pelo poder público brasileiro, 90% são oriundos de renúncia fiscal. Juca Ferreira, na entrevista, aponta seus limites e debate de que maneira essa lógica pode ser superada. Enquanto ela não é, a crítica de arte e professora aposentada da Faculdade de Letras da USP Iná Camargo Costa define a disputa de recursos de incentivo fiscal como “briga de cachorro grande disputando dinheiro do Estado para fins de acumulação”. Assim, os cachorros grandes para os quais o Estado tem transferido a responsabilidade de produção cultural, com a evidente intenção de oferecer eventos para o seu público consumidor, não raras vezes promoverão atividades culturais cujo acesso será para quem tenha no bolso bem mais que um Vale Cultura.
Como Dahmer, Lins e tantos outros evidenciam, porém, a barreira da cultura hegemônica não é inquebrável. Afinal, como define Theodor Adorno, “a cultura, como aquilo que aponta para além do sistema de conservação da espécie, inclui um momento de crítica a todo o existente, a todas as instituições”.
Gabriela Moncau é estudante de jornalismo
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