São Paulo – O primeiro banco de dados nacional sobre a população negra
foi lançado hoje (21) em São Paulo. Resultado de uma parceria entre a
Universidade Zumbi dos Palmares e as secretarias de Assuntos
Estratégicos e Especial de Promoção da Igualdade Racial, o Observatório
da População Negra vai reunir informações sobre mercado de trabalho,
distribuição de renda, demografia, acesso à informação, habitação,
estrutura familiar e educação.
Por meio do observatório, serão promovidas ainda pesquisas sobre a
população negra brasileira, que representa cerca de 51% da população
total do país. “É o maior banco de dados sobre negros no Brasil. Hoje
ele se inicia com 50 mil informações, dos últimos 20 anos, e com
perspectivas socioeconômicas que abrangem habitação, políticas públicas e
mercado de trabalho, entre outros”, explicou José Vicente, reitor da
universidade.
O lançamento do banco de dados marca as comemorações pelo Dia
Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado
hoje (21). “A ideia é reunir, em um único
site, pesquisas,
séries históricas e artigos sobre a questão racial no Brasil e
iniciativas para a superação das desigualdades raciais no Brasil”, disse
Eliane Barbosa da Conceição, professora da Universidade Zumbi dos
Palmares e uma das pesquisadoras do observatório.
A reunião dessas informações em um portal, segundo ela, vai facilitar o
trabalho de pesquisadores e também contribuir para a construção de
políticas públicas voltadas para a população negra.
Os números do observatório mostram, por exemplo, que, apesar dos
avanços da população negra em várias áreas, ainda há um hiato entre
negros e o restante da população nas realizações mais valorizadas da
sociedade. “A história do Brasil nos últimos dez anos é de um avanço sem
precedência nas realizações da população negra. Eles avançaram muito,
mas o resto do Brasil avançou muito também. A questão que se coloca é em
que medida eles avançaram mais rapidamente do que o resto da população
brasileira”, disse o subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Ricardo Paes
Barros.
Segundo ele, na base econômica e social, em situações que envolvem
desemprego, baixa renda e questões de falta de saneamento e água, por
exemplo, o avanço da população negra foi mais acelerado. “O que quer
dizer que, cada vez mais, a pobreza no Brasil é bicolor, de 50% brancos e
50% negros”, ressaltou.
No entanto, nos postos, ocupações ou bens mais desejados na sociedade
brasileira, a população negra avançou, mas avançou na mesma proporção
que a população branca. “Portanto, nesses postos mais desejados, a
diferença entre brancos e negros no Brasil foi preservada no sentido de
desigualdade.”
Um exemplo desse cenário é que, entre os brasileiros que ganham mais
de dez salários mínimos, os negros representam apenas 20% desse total. A
população negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam
a fazer pós-graduação no país. “O Brasil talvez não tenha sido tão
eficaz em gerar igualdade de oportunidade no topo da distribuição”,
acrescentou.
Para Barros, esse panorama vai exigir ações afirmativas do governo
voltadas para o topo dos bens, serviços, ocupações e posições mais
valorizadas do país. “Ela [ação afirmativa] pode ser importante porque
leva à formação de uma elite negra, [de forma] mais acelerada.”
Em abril, o governo federal lançará o Programa Nacional de Ações
Afirmativas. Segundo o secretário executivo da Secretaria Especial de
Promoção da Igualdade Racial, Mário Lisboa Theodoro, o programa vai
englobar ações afirmativas em três grandes áreas: trabalho, educação e
de comunicação/cultura. “Estamos montando esse programa. Ele está sendo
pactuado com oito ministérios e deve ser levado à presidenta da
República até o início de abril”, disse.
O objetivo do programa é promover a inserção dos negros nas áreas mais
valorizadas da sociedade brasileira, onde ocorrem atualmente as maiores
desigualdades. “Nossa ideia é trabalhar na área de educação,
principalmente [no ensino] superior e nas áreas onde esse diferencial
não está sendo reduzido neste momento virtuoso do Brasil”.
Mais informações sobre o portal Observatório da População Negra podem ser encontradas no endereço
http://www.observatoriodonegro.org.br/.
Edição: Lana Cristina
FONTE: AGÊNCIA BRASIL.