Curioso para aprender mais sobre teoria e prática e tornar-se melhor professor em sala de aula, Júlio Cezar Marinho da Fonseca tinha a distância como a grande dificuldade. O polo do Programa de Mestrado Profissional em Matemática (Profmat) para as aulas presenciais, no Amazonas, fica em Manaus. Parintins está a cerca de 350 quilômetros da capital. Júlio Cezar ainda mora e trabalha na cidade turística, da dança folclórica do boi-bumbá.
“Foram dois anos cansativos, mas que valeram o suor e o sono perdido”, diz. Ele viu no mestrado profissional a oportunidade que esperava para “fazer a diferença no ensino” em sua cidade. Para chegar a Manaus a tempo de assistir às aulas do sábado, o professor do ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) chegou, no início do curso, a viajar 20 horas de barco, dia e noite, às sextas-feiras, pelos rios Amazonas, Negro e Solimões.
Depois, com a liberação da bolsa de estudos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Júlio Cezar conseguiu amenizar a rotina semanal, ainda assim exaustiva. De lancha, a viagem de ida foi reduzida à metade do tempo. A volta, no domingo, levava uma hora de voo. De segunda a quinta, a rotina voltava a ser a de professor, com 40 horas de carga horária a cumprir. O sacrifício de aliar estudos e trabalho valeu a pena, garante o novo mestre em matemática, aluno da primeira turma do programa.
“Hoje, na minha cidade, o ensino de matemática está evoluindo. Já conseguimos melhorar os resultados nas olimpíadas nacionais, por exemplo”, afirma o professor, que inspirou outros colegas a percorrer o mesmo caminho da qualificação.
Diferença — O Profmat foi o primeiro mestrado profissional a ser criado no Brasil, com reconhecimento da Capes, para professores em sala de aula. Desde a primeira turma, em 2011, 5.824 profissionais ingressaram no programa — 1.527 concluíram o curso e receberam o título de mestre. Júlio Cezar faz parte dessa estatística. Ele defendeu, em 2013, estudo sobre os números perplexos, numa abordagem para o ensino médio. “Todo professor que exerce a profissão na educação básica deveria passar pela experiência de um mestrado, como o Profmat. Posso dizer que existe uma grande diferença entre a forma de ensinar que eu usava antes e a metodologia que adoto atualmente”, relata. “Consigo trabalhar os conteúdos de forma mais diversificada e embasada matematicamente, o que possibilita maior clareza na explicação e desperta a curiosidade para o conhecimento matemático e sua aplicações.”
Atualmente, 2.559 docentes fazem o curso, que tem duração de dois anos. Até agora, o maior grupo de participantes do programa tem entre 28 e 32 anos de idade e de cinco a nove de exercício da profissão. Cerca de 20% são mulheres.
Credibilidade — Ana Luiza Kessler, professora na rede pública de Santa Maria (RS), que apresenta a dissertação neste mês de abril, também não teve trajetória fácil. Ela conta que se interessou pelo mestrado em razão da credibilidade do curso, coordenado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e pela Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). “Instituições renomadas na área de matemática”, afirma. “Além dos livros, professores dessas instituições participam ativamente do curso.”
Apesar da motivação, a distância, a dura rotina de conciliar os estudos com a carga de 40 horas semanais como professora de escola pública e problemas pessoais a impediram de concluir o curso no prazo de dois anos. Ainda assim, não desistiu. Em 2013, passou novamente pela seleção e reingressou. A rotina do mestrado permitiu a ela participar de eventos acadêmicos, conhecer professores renomados da área — entre eles, os autores dos livros que leu — e renovar o entusiasmo pela pesquisa. “Reencontrar colegas do mestrado, que tiveram outras oportunidades após a conclusão do Profmat, era o estímulo que eu precisava para não desistir e terminar o curso”, diz Ana Luiza, que está na fase da redação final da dissertação.
Graças ao Mestrado Profissional em Matemática, Ana Luiza tornou-se representante da Região Sul na Associação Nacional de Professores de Matemática na Educação Básica (Anpmat), que tem entre os objetivos apoiar ações para formação e valorização profissional dos docentes de matemática. “Todos nós, profissionais, precisamos nos reciclar e estar sempre em busca de mais conhecimento, de mais saberes, de inovações, de ideias para aprimorar nossas aulas e nossas práticas docentes”, afirma.
Fonte: Portal do MEC.
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