quarta-feira, 27 de julho de 2011

De mãos nas artes, mas abanando

De mãos nas artes, mas abanando
Governo do Estado ainda deve cachês a 24 grupos e artistas que prestaram serviços para a gestão anterior
Sérgio Vilar // sergiovilar.rn@dabr.com.br

Ironia: o grupo se chama Artes e Traquinagens. Mas quem aprontou das suas foi a Fundação José Augusto. Uma das companhias de teatro de rua mais atuantes da cidade, contemplada com o título de Ponto de Cultura, está parada. O motivo: atraso de um ano no pagamento de mais de R$ 30 mil do Governo do Estado. A maior parte do dinheiro é referente ao Agosto de Teatro, realizado em 2010. Outros 23 grupos e artistas também esperam receber seus cachês, além de empresas que prestaram serviço e juntas somam uma dívida de R$ 220 mil.


Mãos nas Artes, do qual o ator João Pinheiro faz parte, tem sido "custeada" com a venda de títulos de capitalização Foto:Eduardo Maia/DN/D.A Press
Sem dinheiro para quitar débitos de aluguel e manutenção da sede do Artes e Traquinagens, no Alecrim, o ator João Pinheiro tem vendido títulos de capitalização diariamente no calçadão da João Pessoa, na Cidade Alta. Foi a maneira encontrada para o Ponto de Cultura Mãos nas Artes - administrado pelo grupo - não cair no limbo. E junto com ele, oficinas de figurinos e adereços, malabares, palhaço, teatro de bonecos e de rua. Tudo oferecido de graça à comunidade. "São dez anos de estrada. Queremos manter o grupo sem cobrar pelas oficinas".

As dificuldades começaram quando o Artes e Traquinagens e outros artistas precisaram sair do República das Artes, há quase dois anos. O prédio foi reformado para abrigar a nova unidade do IFRN. O Governo do Estado e o IFRN se comprometeram em doar um galpão localizado na Ribeira para receber os artistas sobreviventes ao fim da velha sede de tantas artes. Mas o prazo para regularizar a doação demorou e o local foi tomado pela CBTU. O grupo se viu sem teto e resolveu alugar o atual ponto no Alecrim.

No primeiro ano de nova sede, o Artes e Traquinagens funcionou de forma sustentável: contratos firmados, shows agendados em projetos do governo e verba do Ponto de Cultura liberada: os sonhados R$ 60 mil da primeira parcela. Um sonho que virou pesadelo. O grupo recebeu o montante revertido em equipamentos (som, máquinas de costura, tablado#), conforme previsto no regulamento. Mas precisaram pagar em dinheiro mais de 30% de impostos imprevistos no orçamento enviado ao Ministério da Cultura.

As atividades até então dinâmicas começaram a reduzir o ritmo. E vieram as contratações sem pegamento. Apenas do Agosto de Teatro são R$ 2,5 mil. Mais quatro apresentações em eventos somam R$ 4,5 mil. E somados ao Prêmio de Circulação da Espetáculos Chico Vila e o Edital Lula Medeiros de Teatro de Rua, com R$ 23 mil, a dívida se aproxima dos R$ 30 mil, afora o boneco gigante da dengue, confeccionado a pedido da prefeitura, também sem o pagamento de R$ 1,3 mil. "Para levarmos nosso espetáculo há um custo. E só gastar sem receber, não dá".

Para sanar dívidas de manutenção da sede e das apresentações, João Pinheiro, já garoto propaganda da Natal Cap com o personagem Zé da Sorte, agora também vende os títulos na rua. Se o grupo atrasar mais aluguéis e perder a sede no Alecrim, perderão por tabela o título de Ponto de Cultura - que exige uma sede para o envio dos equipamentos e as outras duas parcelas no valor de R$ 120 mil em equipamentos.

FONTE: DIÁRIO DE NATAL

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