segunda-feira, 26 de março de 2012

Merenda Inteligente


Especialistas desenvolvem banco de dados que ajudará os gestores da alimentação escolar na hora de comprar os produtos destinados aos alunos do ensino público. O objetivo é diminuir o custo das refeições e, ao mesmo tempo, torná-las mais variadas e atraen
Elaborar diariamente um menu e não cair na mesmice é uma tarefa difícil. Se em casa é assim, imagine o trabalho que dá para os responsáveis pela alimentação escolar? Pensando nessa e em outras dificuldades da rotina dos gestores de ensino, um grupo multidisciplinar com profissionais de diversos órgãos de São Paulo, incluindo a USP e a Unicamp, iniciou um projeto para melhorar e facilitar a escolha de frutas, verduras e hortaliças que compõem o prato servido para os alunos das escolas públicas. Quando finalizado — a previsão é para 2014 — o programa poderá ser utilizado em todo o Brasil.
De acordo com a engenheira de alimentos do programa, Fabiane Mendes da Câmara, o objetivo é dar apoio aos gestores que fazem as compras para a merenda escolar. Ela conta que, muitas vezes, esses funcionários têm dificuldades de escolher o melhor produto por não serem especialistas. “O ideal é que cada município tenha um nutricionista, mas como essa recomendação não é sempre cumprida, esse trabalho se torna mais difícil”, indica.
Além de o responsável ter dificuldade de escolher o ingrediente mais fresco, ou seja, o da estação, é comum que ele faça compras que incluem produtos com alguns defeitos que, segundo os critérios da alimentação escolar, não podem ser utilizados. E pior, esses produtos, muitas vezes, saem mais caros. “O valor, entre diferentes tamanhos e qualidade do mesmo produto no mesmo dia, é muito grande. O Serviço de Alimentação Escolar paga pelo produto mais valorizado e recebe o menos valorizado — uma diferença em torno de 100%”, aponta.
Plataforma
Para evitar problemas como esses, o grupo trabalha na criação de um banco de dados que contará com mais de 90 itens catalogados. A plataforma vai fornecer informações como a melhor cotação de preço, as informações nutricionais, os diferentes tipos do mesmo produto, a sazonalidade e aquelas que são mais comercializadas. “Com essas informações, o cliente pode fazer uma compra mais pontual. Se a intenção for fazer um purê de batatas, por exemplo, o gestor pode comprar o tubérculo mais adequado, pois terá as informações necessárias para fazer a escolha na plataforma”, explica Fabiane.
A ideia é aperfeiçoar o HortiEscolha, menu disponível no site HortiBrasil. Esse site, atualmente, fornece apenas uma classificação dos alimentos. A partir da diferença de aproveitamento e preço, ele chega a um coeficiente com melhor custo-benefício para cada ingrediente, permitindo comprar, com os mesmos recursos, mais produtos. O novo programa traz mais variáveis a essa equação, orientando a compra.
“Com as informações organizadas e facilitadas, o nutricionista poderá montar um cardápio com menos repetições, mais rico nutricionalmente e ainda mais em conta”, pontua a engenheira de alimentos. Geralmente, o cardápio escolar é muito restrito, o que aumenta a resistência dos alunos aos pratos servidos. “Uma pesquisa da Unicamp constatou que a recusa voluntária das refeições por grande parte dos estudantes está relacionada à monotonia dos cardápios”, menciona.
Na prática
A merendeira da Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal Letícia Levenhagen explica que os cardápios das escolas públicas do Distrito Federal são montados pela equipe de nutricionistas do GDF. “Os alimentos chegam com o cardápio e aqui nós preparamos”, descreve. Ela vê os menus mais como uma orientação do que uma regra a seguir, uma vez que nem sempre a comida pode ser preparada como foi indicada no cardápio. “A gente faz adaptações. Este mês, por exemplo, estava no cardápio a galinhada com couve, mas como a hortaliça não veio, servimos arroz com frango”, conta.
Pela percepção dela, cada turma gosta mais de alguns alimentos do que outros e a recusa tem muita relação com a idade. “As crianças não se importam tanto com a comida, mas os adolescentes parecem ter vergonha e preferem o lanche pago da cantina”, observa. Para ela, o lanche pago deveria ser fiscalizado. “Os meninos comem muito doce e refrigerante e isso dificulta a concentração em sala de aula”, acredita.
Na merenda, os pratos são mais balanceados. Há dias em que são servidos pratos como caldo de feijão ou arroz com sardinha, rica em ômega 3. Já outros, com biscoito e iogurte ou sucrilhos. “Eu tento ter bom senso para escolher o que preparar. Quando está frio, priorizo receitas mais substanciosas. Já nos dias quentes, sirvo as opções mais leves e refrescantes. Dessa forma consigo uma aceitação maior”, arquiteta. O Correio tentou ouvir o Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria de Educação do DF sobre a proposta do grupo paulista, mas não obteve retorno.
Oferta essencial
A merenda escolar é, muitas vezes, a única opção de refeição balanceada e rica em nutrientes para 45,6 milhões de crianças brasileiras. No entanto, essa alimentação tem muito a melhorar. De acordo com a última Pesquisa Nacional do Consumo Alimentar e Perfil Nutricional de Escolares, Modelos de Gestão e de Controle Social, do Programa Nacional de Alimentação Escolar, a oferta semanal média de frutas e hortaliças é de apenas 40g. A recomendação é de 200g. Além disso, 41% dos cardápios não servem nenhuma fruta e 16% não utilizam hortaliças.
Autor: Correio Braziliense
http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=28047

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