Rio de Janeiro - A ampliação do hábito da leitura entre estudantes
brasileiros requer a existência de mediadores preparados que entendam as
novas ferramentas tecnológicas para levá-los a fazer a ligação com o
mundo em que vivem por meio da literatura. “Nós temos poucos mediadores
aptos a entrar neste diálogo, nestes suportes, nestas novas linguagens e
que tragam uma herança cultural vastíssima”, disse a diretora adjunta
da cátedra Unesco de Leitura da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-RJ), Eliana Yunes.
Na avaliação de Eliana, que criou a cátedra de Leitura na PUC-RJ em
parceria com a Unesco, os estudantes, mesmo no uso da internet, podem
dedicar mais tempo à escrita e à leitura do que teriam as pessoas há
cerca de 20 anos. “Eles são obrigados a ler, a escrever, a se
comunicar”, declarou à Agência Brasil.
Eliane admitiu, contudo, que sem uma mediação adequada, “existe uma
simplificação do uso da língua”. A leitura dos estudantes que estão
conectados às redes sociais acaba circunscrita a um universo muito
estreito ao qual eles têm acesso com facilidade. “Está na onda, está na
moda. Tem a coisa da tribo, do grupo”, disse. A professora disse que
essa leitura, porém, não têm a densidade necessária para levar os alunos
à formação de um pensamento crítico.
Segundo Eliana Yunes, falta a esses estudantes um trabalho de ligação
com a leitura criativa ( presente na literatura, por exemplo), algo que
pode ser feito pelas escolas e até pelas famílias. “Falta uma mediação
que permita que esses meninos tenham acesso, mesmo via internet, a sites muito bons de poesia, de blogs, pequenas histórias, de museus, que discutem música, história”. Sites que,
segundo Eliana, permitem que os alunos saiam desse “chão raso” e possam
ser levados para uma experiência criativa da linguagem.
“Quem não lê tem muita dificuldade de escrever, de ampliar o seu
universo de escrita, de virar efetivamente um escritor”. Como eles têm
pouca familiaridade com a língua viva, seria necessário que os adultos
se preparassem melhor, buscando conhecer esta nova tecnologia para que a
mediação, tanto pela escola como pela família, pudesse ser exercida de
forma a partilhar com os alunos leituras de boa qualidade.
A professora disse que a mediação restaura o fio que liga o passado ao
futuro no presente destes estudantes. Ela reiterou que a falta de
conhecimento de professores e pais desses suportes modernos de
comunicação e a falta de habilidade de envolver alunos em uma discussão
de um universo mais rico impedem meninos e meninas de desfrutarem uma
herança cultural, “da qual eles são legítimos herdeiros”.
“Acho que a questão da escola passa pelo problema da mediação. Se nós
não formos leitores de várias linguagens, de vários suportes, nós
perderemos realmente o passo com esta geração, que está velozmente à
nossa frente, buscando outras linguagens, outras formas de comunicação”.
É preciso, sustentou, que os estudantes percebam que a literatura não é
um peso ou uma obrigação. “Literatura é vida”.
Para Eliana, a literatura faz falta porque desloca o olhar das pessoas
de uma coisa “líquida e certa”, para um lugar de reflexão, de discussão
sobre o mundo e a vida humana. Isso pode ser encontrado não só no livro
impresso, em papel, como também no livro digital. “Este jogo
contemporâneo é muito rico”, disse. “Quanto mais suportes a gente tiver
para a palavra escrita e para abrigar a reflexão sobre a condição do ser
humano, melhor a gente vai poder abraçar as várias modalidades, que
estão vivas, da palavra”.
Pesquisa - De acordo com pesquisa efetuada pelo Instituto Mapear para a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro com
4 mil estudantes e 1,2 mil responsáveis, 93% dos alunos do ensino médio
da rede pública do estado tinham celulares em dezembro de 2011 e 78%
possuíam computador, sendo que 92% tinham acesso frequente à internet.
Em contrapartida, 14% dos alunos declararam não ter lido nenhum livro
nos últimos cinco anos. Entre os que não leram nada, 17% residiam no
interior e 12% na região metropolitana. Um livro foi lido no período por
11% dos estudantes; dois ou três livros por 26% e quatro ou cinco
livros por 17%.
Entre os alunos que leram mais que um livro em média nos últimos cinco
anos, a pesquisa registrou que 14% leram entre seis e dez livros, 8%
entre 11 e 20 e 10% leram mais que 20 livros em cinco anos.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL.
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