Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Embora o combate à desertificação seja fundamental à
implementação de uma agenda consistente para o desenvolvimento
sustentável, o tema ainda não é visto como prioridade pelos governos
mundialmente. A avaliação é do presidente do Comitê Científico da
Convenção das Nações Unidas para Combate à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos de Secas (UNCCD), Antônio Rocha Magalhães.
Segundo ele, os impactos da seca são cada vez mais severos e a
interferência humana, promovendo desmatamento e erosão, por exemplo,
contribui para a piora do cenário. Magalhães argumenta que a prevenção e
o combate à desertificação estão diretamente relacionados aos esforços
para erradicação da pobreza.
“Cerca de 2 bilhões de pessoas vivem em áreas secas, sujeitas à
desertificação, que representam 40% do território mundial. Essas áreas
concentram 60% da pobreza mundial, por isso, quando se fala em
erradicação de pobreza tem que se olhar em particular para essas
regiões. Por serem mais pobres, com recursos naturais menos promissores e
atividades agrícolas mais arriscadas por causa do déficit hídrico, elas
não conseguem atrair apoio político forte”, afirmou.
Antônio Rocha Magalhães, que também é assessor do Centro de Gestão e
Estudos Estratégicos (CGEE), organização social supervisionada pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, alertou que os recursos
investidos para prevenir a desertificação são “muito menores” do que os
prejuízos trazidos pelo problema.
Ele lembrou que, no ano que vem, o Brasil vai sediar a 2ª Conferência
Científica da Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação
e Mitigação dos Efeitos de Secas (UNCCD). Durante o encontro, que faz
parte do calendário oficial das Nações Unidas, serão avaliados os
impactos econômicos do combate à desertificação e da implementação de
políticas de mitigação de efeitos de seca.
“O que já se sabe de antemão é que o custo de não se fazer nada é muito
maior, porque os impactos futuros esperados, diante do aumento da
pressão sobre essas regiões, devem impor prejuízos econômicos, sociais e
ambientais muito maiores do que o que seria necessário para implementar
políticas de prevenção”, enfatizou.
Entre as principais consequências da degradação dessas terras estão as
perdas para o setor agrícola, com o comprometimento da produção de
alimentos; a extinção de espécies nativas; o agravamento da desnutrição
da população local; baixo nível educacional e a concentração de renda.
O presidente do Comitê Científico da UNCCD, destacou que no Brasil o
processo de desertificação atinge várias regiões principalmente do
Nordeste. Os chamados núcleos de desertificação, onde a situação de
degradação é mais crítica, são: Seridó, no Rio Grande do Norte, na
divisa com a Paraíba; Irauçuba, no Ceará; Gilbués, no Piauí; e Cabrobó,
em Pernambuco.
Magalhães ressaltou, no entanto, que o quadro mais grave mundialmente é
observado na África. No continente, “a situação de pobreza é maior e é
agravada pelas diferenças políticas e étnicas”, o que dificulta a
implementação de uma agenda de desenvolvimento sustentável para a
região.
Além disso, as projeções populacionais preveem manutenção do
crescimento, enquanto no Brasil o ritmo [de crescimento populacional] já
diminui e já se vislumbra uma estabilidade da população. Na África, ele
continua explodindo, com taxas de até 4% ao ano em alguns países”,
ressaltou.
Magalhães enfatizou que esse quadro “justifica os esforços do Brasil em estabelecer uma cooperação com a África”.
No dia 20 de junho deste ano, durante a Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, foi firmado um acordo
tripartite para o combate à desertificação da África, formado por
Brasil, França e um bloco de países do continente. Na oportunidade, foi
lançado edital de seleção de projetos de pesquisa sobre o tema no valor
de 1 milhão de euros (cerca de R$ 2,6 milhões).
Edição: Talita Cavalcante
FONTE: AGÊNCIA BRASIL.
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