Uma catadora de lixo criada em uma comunidade carente de São Paulo,
passou por cima de todos os preconceitos em busca de um sonho. Com 19
anos de idade, Laíssa Sobral Martins conquistou uma vaga, dentre
centenas de concorrentes, em uma das universidades públicas mais
concorridas do Brasil.
O interesse em ajudar a cooperativa em que trabalhava como catadora motivou jovem a batalhar por uma vaga em um curso superior.
Laíssa trabalhou como catadora de lixo até 2011. O trabalho era
pesado: separar rapidamente o lixo orgânico exige força física e eram
poucos jovens que trabalhavam nessa função. Segundo a mãe dela, Maria
Lúcia Sobral, atual presidente da cooperativa, a jovem sempre foi
motivada e nunca reclamou da pesada da rotina de trabalhar e estudar.
Laíssa trabalhou como catadora de lixo até 2011, quando passou no vestibular para curso de gestão ambiental
“Não é difícil fazer a coleta seletiva, mas sim mudar o hábito de não
reciclar. Buscamos conscientizar a todos sobre isso, mostrando a
importância do trabalho dos catadores”, explica Laíssa.
Ela foi criada em um barraco de lona, na zona sul da capital
paulista, onde morava com a família. Com pouco dinheiro, sobrevivia por
meio de muito trabalho. A estudante utilizava cadernos e livros
encontrados em lixeiras. Ela arrancava as folhas que estavam escritas e
usava as que estavam em branco.
Enquanto isso, a mãe de Laíssa recolhia de feiras livres alimentos
que ficavam no chão. “As pessoas diziam que era um pecado eu levar meus
filhos para buscar comida comigo, mas erro mesmo era deixá-los lá na
favela, a mercê do tráfico”, afirma Mara Lúcia.
Desde pequena, a universitária já ia atrás de seus objetivos. Com
apenas oito anos quis saber quem era seu pai. “Não queria falar, pois
sofri muito por ele não assumir a responsabilidade, mas disse a ela que
morava no mesmo bairro que nós e se chamava Luiz”, contou a mãe.
Com essas informações, encontrou um homem com a mesma feição na rua
de seu bairro e, sozinha, o abordou: estava frente a frente com o
próprio pai. A partir daquele dia não se separaram mais, até a morte
dele, em 2009.
Luta por causas importantes
Militante de causas sociais, Laíssa defende os catadores de resíduos
recicláveis por meio do Movimento Nacional dos Catadores. Já teve um
encontro com a presidenta Dilma Rousseff, em que, ela e a mãe,
reivindicaram apoio para a coleta seletiva em São Paulo.
Também participa do Movimento da População em Situação de Rua,
Movimento Negro Unificado, na Rede de Comunidades do Extremo Sul e na
ONG Um teto para meu País (UTPMP). Essa última reúne jovens e
universitários voluntários, de 18 a 30 anos, para a construção de casas
de emergência, feita de madeira pré-fabricada, em comunidades carentes.
“Laíssa participou quatro vezes no mesmo ano como voluntária. É uma
pessoa extrovertida e fácil de fazer amizades. Os outros universitários
admiraram a história de vida dela”, lembra o diretor de formação e
voluntariado da ONG UTPMP, Júlio Lima.
Vaga na universidade pública
Ainda como catadora, em 2011, ingressou em uma universidade
particular, no curso de gestão ambiental. Havia dificuldades em arcar
com os estudos, já que também ajudava com as despesas da família.
Nesse meio tempo, participou do curso de introdução à Economia
Solidária e conquistou uma vaga para trabalhar em uma incubadora de
empreendimentos solidários na ITCP- USP (Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo).
O novo trabalho oferecia um salário menor ao da cooperativa. Então,
resolveu prestar vestibular para as vagas remanescentes da USP, no mesmo
curso que fazia. Mas a lista de livros para auxiliar na prova da
universidade era grande e as condições para obtê-los não eram
favoráveis.
Houve ajuda de todos os lados. Um blog divulgou sua dificuldade em
conseguir os livros e, com isso, o material chegava até mesmo pelo
correio. Outras pessoas próximas da estudante também a ajudaram nesse
processo.
Depois de muito estudo, ela passou em 4º lugar. “Não procurei a USP
por ser a melhor universidade, mas sim, porque ela tem que ser espaço de
pobres. As pessoas que vivem em condições inferiores devem explorar as
oportunidades e se preparem, sempre. Devemos lutar pelas oportunidades e
não abaixar a cabeça para o capitalismo”, afirma Laíssa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário