O
concurso de provas ou de provas e títulos, conforme reza a Constituição
Federal de 1988, é a forma mais democrática de se conseguir uma vaga no
serviço público brasileiro. As disputas são acirradas. Pelo nível dos
candidatos, é bem provável que até o início da próxima década União,
Estados, DF e Municípios estejam servidos de funcionários muito bem
qualificados (e melhor remunerados), expurgando a máxima que floresceu
no país durante a Ditadura de que servidor público é preguiçoso,
acomodado, sinônimo de desleixo, serve mal aos órgãos públicos, etc.
A
maioria das instituições contratantes e empresas que preparam os
concursos, no entanto, dão a impressão de que estão caminhando na
contramão da excelência profissional. Estão avaliando mal. Pelo menos na
área de Comunicação Social. No mínimo, passando dos limites,
superando-se negativamente a cada prova. É o caso da Fundação Carlos
Chagas, que realizou neste domingo (20 de maio de 2012) o concurso para
vários cargos de nível médio e superior para o Ministério Público do Rio
Grande do Norte. E aqui me dou o direito de comentar apenas a prova
para jornalistas, que disputavam uma única vaga para o cargo de Assessor
de Comunicação.
Em
primeiro lugar, o alto custo da taxa de inscrição (R$ 167,50 – a maior
que já vi em concursos públicos no Brasil até hoje) e o enorme conteúdo
do programa de estudo (para ser estudado em apenas dois meses,
pós-edital) afastaram muita gente. Apenas 78 corajosos candidatos se
inscreveram. Desses, acredito que uns 60 devem ter encarado um dia
inteiro de prova (objetivas pela manhã e subjetivas à tarde) – só na
sala em que prestei o exame foram registrados cinco faltosos.
Mas,
o pior estava por vir. Para começar, o nível da prova de conhecimentos
gerais (Português, Informática, Atualidades, História e Aspectos
Geoeconômicos do RN, Direito Constitucional, Direito administrativo e
Teoria Geral do Direito… Ufa!) superou a expectativa de todos. O nível
estava altíssimo, mas coerente com uma prova para nível superior. E até
aceitável pelo alto índice de concorrência, cada vez mais acentuado nos
concursos públicos Brasil afora, atualmente.
O
cargo disputado era o de Assessor de Comunicação e para surpresa de
todos (não vi ninguém dizer o contrário) apenas duas das 30 questões da
prova objetiva exploraram o assunto. Teoria da Comunicação e do
Jornalismo e questões absolutamente técnicas de editoração, como termos
técnicos e definições sobre o microfone de TV – temas que não são
trabalhados ou discutidos no dia dia de uma Assessoria de Comunicação –
dominaram as questões da prova da manhã (objetiva).
À
tarde, logo depois do almoço, por muito pouco não houve uma congestão
em massa. Definitivamente, a conceituada Fundação Carlos Chagas e o
Ministério Público do RN se superaram. Nada sobre Assessoria de
Comunicação entre as dez questões subjetivas, nem muito menos na
redação, que versava sobre Jornalismo e Cidadania, com um texto de base
quase filosófico. Ora, a vaga não era para Assessor de Comunicação? Ou
seria para professor universitário, mestre, doutor e PHD em Teorias da
Comunicação?
Pelo
conteúdo apresentado, que deixou todos os candidatos insatisfeitos
(alguns até frustados, por terem tido a sensação de que perdera seu
precioso tempo estudando sem necessidade), a impressão que a FCC e o
MP/RN passou foi a de que gostaria muito de contratar um teórico da
comunicação, ou até um filósofo, quem sabe!? Jornalista com qualificação
e experiência para trabalhar na Assessoria de Comunicação de um
importante órgão como é o Ministério Público não era o foco.
E
esta tem sido uma reclamação constante dos concurseiros da área de
comunicação, inclusive, do autor deste texto. Teoria da Comunicação e do
Jornalismo, Filosofia, questões muito técnicas de radiojornalismo e
telejornalismo, por exemplo, aprende-se na Faculdade, apenas como
embasamento para o curso de Jornalismo. Mas, para contratar um Assessor
de Comunicação o mais sensato é questioná-lo sobre as atividades
voltadas para esta área de atuação.
Muito
mais correto e avaliativo seria se, em vez de explorar temas tão
teóricos, que não ajudam em nada no dia-dia de um Assessor de
Comunicação, fossem explorados temas como marketing, publicidade e
relações públicas. Estes sim, estão diretamente associados às ações e
atividades de um Assessor de Comunicação (ou de Imprensa, como queiram).
É bom deixar claro que este exemplo do concurso do MP/RN é mais comum
do que se pensa. Não é ou foi “privilégio da FCC”.
Acho
– e acredito que os colegas jornalistas devem pensar da mesma forma –
que passou da hora destas bancas reavaliarem as provas para a área de
Comunicação Social, em particular, Jornalismo. Para não dizer que apenas
critico, vai um elogio à Comperve, que exterminou do conteúdo
programático de estudos para o concurso da UFRN, que será realizado em
breve (17 de julho de 2012) para o cargo de Assessor de Comunicação,
Teorias da Comunicação, explorando temas mais voltados a área de…
Assessoria de Comunicação. Um exemplo a ser seguido.
FONTE: DN ONLINE.
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