segunda-feira, 21 de maio de 2012

Concursos Públicos para Assessoria de Comunicação no Brasil precisam passar por uma ampla reavaliação

O concurso de provas ou de provas e títulos, conforme reza a Constituição Federal de 1988, é a forma mais democrática de se conseguir uma vaga no serviço público brasileiro. As disputas são acirradas. Pelo nível dos candidatos, é bem provável que até o início da próxima década União, Estados, DF e Municípios estejam servidos de funcionários muito bem qualificados (e melhor remunerados), expurgando a máxima que floresceu no país durante a Ditadura de que servidor público é preguiçoso, acomodado, sinônimo de desleixo, serve mal aos órgãos públicos, etc.
A maioria das instituições contratantes e empresas que preparam os concursos, no entanto, dão a impressão de que estão caminhando na contramão da excelência profissional. Estão avaliando mal. Pelo menos na área de Comunicação Social. No mínimo, passando dos limites, superando-se negativamente a cada prova. É o caso da Fundação Carlos Chagas, que realizou neste domingo (20 de maio de 2012) o concurso para vários cargos de nível médio e superior para o Ministério Público do Rio Grande do Norte. E aqui me dou o direito de comentar apenas a prova para jornalistas, que disputavam uma única vaga para o cargo de Assessor de Comunicação.
Em primeiro lugar, o alto custo da taxa de inscrição (R$ 167,50 – a maior que já vi em concursos públicos no Brasil até hoje) e o enorme conteúdo do programa de estudo (para ser estudado em apenas dois meses, pós-edital) afastaram muita gente. Apenas 78 corajosos candidatos se inscreveram. Desses, acredito que uns 60 devem ter encarado um dia inteiro de prova (objetivas pela manhã e subjetivas à tarde) – só na sala em que prestei o exame foram registrados cinco faltosos.
Mas, o pior estava por vir. Para começar, o nível da prova de conhecimentos gerais (Português, Informática, Atualidades, História e Aspectos Geoeconômicos do RN, Direito Constitucional, Direito administrativo e Teoria Geral do Direito… Ufa!) superou a expectativa de todos. O nível estava altíssimo, mas coerente com uma prova para nível superior. E até aceitável pelo alto índice de concorrência, cada vez mais acentuado nos concursos públicos Brasil afora, atualmente.
O cargo disputado era o de Assessor de Comunicação e para surpresa de todos (não vi ninguém dizer o contrário) apenas duas das 30 questões da prova objetiva exploraram o assunto. Teoria da Comunicação e do Jornalismo e questões absolutamente técnicas de editoração, como termos técnicos e definições sobre o microfone de TV – temas que não são trabalhados ou discutidos no dia dia de uma Assessoria de Comunicação – dominaram as questões da prova da manhã (objetiva).
À tarde, logo depois do almoço, por muito pouco não houve uma congestão em massa. Definitivamente, a conceituada Fundação Carlos Chagas e o Ministério Público do RN se superaram. Nada sobre Assessoria de Comunicação entre as dez questões subjetivas, nem muito menos na redação, que versava sobre Jornalismo e Cidadania, com um texto de base quase filosófico. Ora, a vaga não era para Assessor de Comunicação? Ou seria para professor universitário, mestre, doutor e PHD em Teorias da Comunicação?
Pelo conteúdo apresentado, que deixou todos os candidatos insatisfeitos (alguns até frustados, por terem tido a sensação de que perdera seu precioso tempo estudando sem necessidade), a impressão que a FCC e o MP/RN passou foi a de que gostaria muito de contratar um teórico da comunicação, ou até um filósofo, quem sabe!? Jornalista com qualificação e experiência para trabalhar na Assessoria de Comunicação de um importante órgão como é o Ministério Público não era o foco.
E esta tem sido uma reclamação constante dos concurseiros da área de comunicação, inclusive, do autor deste texto. Teoria da Comunicação e do Jornalismo, Filosofia, questões muito técnicas de radiojornalismo e telejornalismo, por exemplo, aprende-se na Faculdade, apenas como embasamento para o curso de Jornalismo. Mas, para contratar um Assessor de Comunicação o mais sensato é questioná-lo sobre as atividades voltadas para esta área de atuação.
Muito mais correto e avaliativo seria se, em vez de explorar temas tão teóricos, que não ajudam em nada no dia-dia de um Assessor de Comunicação, fossem explorados temas como marketing, publicidade e relações públicas. Estes sim, estão diretamente associados às ações e atividades de um Assessor de Comunicação (ou de Imprensa, como queiram). É bom deixar claro que este exemplo do concurso do MP/RN é mais comum do que se pensa. Não é ou foi “privilégio da FCC”.
Acho – e acredito que os colegas jornalistas devem pensar da mesma forma – que passou da hora destas bancas reavaliarem as provas para a área de Comunicação Social, em particular, Jornalismo. Para não dizer que apenas critico, vai um elogio à Comperve, que exterminou do conteúdo programático de estudos para o concurso da UFRN, que será realizado em breve (17 de julho de 2012) para o cargo de Assessor de Comunicação, Teorias da Comunicação, explorando temas mais voltados a área de… Assessoria de Comunicação. Um exemplo a ser seguido.
FONTE: DN ONLINE.

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