A mais nobre das profissões no rol das gloriosas ocupações que
integram o universo da Educação está a um passo de entrar em colapso. O
magistério nunca esteve tão desmotivado e nem nunca foi tão vilipendiado
como tem sido na 6ª maior economia do planeta.
Não que o drama da classe seja novidade. Professor é desrespeitado
desde sempre. Mas esqueçamos as barbaridades cometidas contra o
magistério no passado para nos concentrar em apenas um dos problemas
centrais da categoria no Brasil de hoje: os baixos salários dos
professores.
O novo piso do magistério, anunciado no mês passado pelo MEC
(Ministério da Educação), recomenda aos estados e municípios pagar um
salário mensal de 1.451 reais aos professores por um regime de 40 horas
semanais de trabalho. Note-se que este valor é apenas uma recomendação.
Não uma exigência.
Mesmo sendo baixo para uma categoria desta importância, o piso
proposto é inatingível à grande maioria das 5,5 mil prefeituras
brasileiras.
Levantamento divulgado em março no Paraná, estado onde o cenário de
crise da Educação é menor, revelou um dado assustador: 51% dos 399
municípios do Estado já concederam reajustes salariais ao magistério em
2012.
Mesmo assim, não atingiram o valor. E o quadro deve piorar em 2013.
Primeiro, devido à insuficiência das receitas das prefeituras. Depois,
em função do efeito cascata que a correção do piso acarreta sobre as
folhas de pagamento dos governos municipais devido à necessidade de
repasse do valor aos professores aposentados e a todos os beneficiados
pelos Planos de Cargos e Salários do Magistério – fato que, aliás, deve
obrigá-los a superar o limite dos 52% de comprometimento de sua receita
corrente líquida com pessoal, fixados pela LRF (Lei de Responsabilidade
Fiscal).
Em estados mais pobres, o quadro é ainda pior. Seus governadores
podem pedir ajuda à União para complementar os valores que as
prefeituras pagam até atingir o piso. Mas apenas 1.756 municípios de
nove estados do Norte e Nordeste (AL, AM, BA, CE, MA, PA, PB, PE e PI)
que recebem recursos do governo por meio do Fundeb (Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério) têm este
direito garantido. Os demais penam em tirar da cartola soluções
financeiras mágicas para honrar as exigências previstas na Lei do Piso.
Esta é uma das razões pelas quais, como denunciam os prefeitos, um
dos pilares do problema é a insuficiência dos recursos para o
financiamento da Educação. De acordo com o coordenador da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, de cada 1 real arrecadado
em impostos pelo Brasil, 57 centavos ficam com a União e apenas 18
centavos, com os municípios.
Isto não significa que os municípios não tenham culpa pelos baixos
vencimentos pagos aos professores, mas que a política salarial do
magistério não pode ser tratada apenas como uma questão econômica e de
responsabilidade apenas das prefeituras. Há um componente fortemente
político na solução dos baixos salários dos professores, que passa por
uma ampla reforma tributária – seguida de uma distribuição mais justa de
receitas entre os Entes Federados – para garantir o custeio dos
aumentos de vencimentos que os professores merecem.
Mas o caos do magistério é extremamente grave por outra razão – e é
neste aspecto que reside o eixo deste artigo. É que a consequeência
direta do descaso imposto ao magistério é o desinteresse dos jovens pela
carreira e a fuga dos profissionais que já atuam na área para outras
atividades, mais rentáveis e menos desgastantes.
Os dados justificam esta preocupação. Estudo encomendado pela
Fundação Victor Civita à Fundação Carlos Chagas revelou que somente 2%
dos estudantes do ensino médio têm como primeira opção no vestibular
cursos ligados ao magistério.
E isto não é tudo.
De acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira), entre 2001 e 2006, o número de cursos de
licenciatura cresceu 65%; o de matrículas, apenas 39%. As conseqüências
do problema são palpáveis: ainda segundo o Inep, considerando-se apenas o
Ensino Médio e as séries finais do Ensino Fundamental, o déficit de
professores com formação adequada passa dos 710 mil no Brasil todo.
Como se percebe, a degradação das condições de vida do magistério é
muito mais que a degeneração de uma categoria profissional. É sinal da
grave crise enfrentada pela instituição Educação.
E não se diga que a culpa pelo problema é apenas dos governantes e
legisladores que prometem – e nunca cumprem – posicionar a Educação como
sua prioridade. A imprensa, o setor privado e a sociedade adotam
rigorosamente a mesma atitude.
A mídia porque, ao invés de promover um debate sério e profundo sobre
a Educação, prefere concentrar seu poder de fogo na divulgação
sistemática da mediocridade e da cretinice, classificadas de notícias.
“Notícias” que agradam ao andar de baixo mas que, acima de tudo, rendem
mais reais porque possuem perfil marcado por apelo supostamente popular –
futebol, sexo, escândalos, criminalidade e as costumeiras idiotices
envolvendo celebridades midiáticas.
O setor privado porque, embora se defina como de vanguarda no ensino,
guardadas as exceções de sempre, paga aos seus professores menos que a
grande maioria dos profissionais com formação universitária e lhes
oferece condições de trabalho nem sempre dignas. Com a diferença de
que, pela pressão da lógica capitalista, cobra deles muito mais
resultados que no setor público.
A sociedade também é responsável pelo problema. Ao invés de enfrentar
este cenário com a seriedade que o tema merece, intensificando as
cobranças tanto dos agentes públicos quanto dos privados, prefere
desestimular seus filhos a seguir a profissão, rendendo-se à lógica
pragmática do capital. Ou apenas se omitir do processo, quando entrega
às escolas o ingrato papel (que é seu) de educar os próprios filhos.
O Brasil, que sonha em ser alçado ao seleto rol dos países
desenvolvidos, está acabando com a carreira do magistério. Por analogia,
está comprometendo seriamente a Educação e, o que é pior, o futuro que
estamos reservando aos nossos descendentes. Triste que seja assim.
Autor(a): Aurélio Munhoz*
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